pois que, dezoito dias antes da sua morte, fez ainda versos tão graciosos como os tinha feito aos dezoito annos da sua idade. Não poude porêm assistir ás segundas nupcias de Sua Magestade a Rainha com o Principe Fernando. Mas sem embargo de não se achar presente, dignou-se Sua Magestade lembrar-se della, honrando-a com a insignia da Ordem de Santa Isabel, que lhe mandou da sua mão, acompanhada com expressões de muito apreço. O Principe quiz ter a bondade de visitá-la, e demorar-se conversando-a por algum tempo, dandolhe com isso o maior contentamento. Mais tarde, já em outro estado, mais longe levou ainda o mesmo Augusto Senhor a sua bondade, enviando-lhe os dois Serenissimos Principes seus filhos, acompanhados pela sua Dama; no que ElRei, juntamente com Sua Magestade a Rainha, deo á Marqueza a mais distincta prova da sua sincera estimação, que ella soube avaliar como devia. Pouco mais de um anno viveo ainda a Marqueza depois destas visitas, até que em fim chegou o fatal momento no dia 11 de Outubro de 1839, tendo vivido quasi 89 annos, em que deo provas constantes de boa Christã, e de boa Portugueza. Amar a Deos, a sua Patria, e a sua familia; dar lustre áquella, e a esta fazer-lhe todo o bem que era possivel; foi a norma certa do seu procedimento. Conheceo o termo final da sua carreira, e resignou-se com a vontade de Deos, recebendo os ultimos Sacramentos. Nessas ultimas horas da existencia faltouThe a vista e o ouvido, e julgando que estava só, começou a agonisar-se a si mesma. Resou a Saudação Angelica, e na ultima palavra da oração... faltou-lhe a voz, e... falleceo. Foi subdita fiel, e por extremo obediente aos seus Soberanos; tanto assim, que sendo ella pouco affeiçoada á Medicina, e tendo como inutil a applicação de remedios aos 89 annos, lembrou-se sua filha D. Henriqueta de lhe fallar em nome da Rainha, para que tomasse o que os Medicos lhe aconselhavam. Ao nome da Rainha, obedeceo, e sujeitou-se. Foi mãe terna e carinhosa, dispondo de tudo quanto possuia, para que suas filhas ficassem no commodo e amparo, que nas graves alterações politicas precisavam. Seja pois permittido a suas filhas, herdeiras do seu bom nome, e dos seus puros sentimentos, dar á sua memoría um testemunho de agradecimento e de lembrança, e levantar-lhe um Monumento perenne, um Padrão glorioso, na publicação das suas Obras, que agora se offerecem ao Publico illustrado. E acreditam ellas que o Publico lhe fará benigno acolhimento, attendendo á novidade, á importancia e perfeição de alguns desses trabalhos; à modestia, verdade e simplicidade com que foram desempenhados, nos intervallos de uma vida tão extensa, ainda que, na maior parte, mortificada e tormentosa. Quidquid ætatis retro est, mors tenet. BREVE NOTICIA HISTORICA DO CONDE D'OEYNHAUSEN CARLOS AUGUSTO. CONDE d'Oeynhausen Carlos Augusto, ramo de uma antiga familia de Westphalia, e aparentado por seu pae e sua mãe com algumas Casas soberanas da Allemanha, como se mostra da tabella que ao diante se segue, nasceo em Hannover a 5 de Dezembro de 1738. Em 1753 foi creado Gentil-homem da Corte de Jorge 2.o Rei d'Inglaterra, e entrou no serviço das suas tropas allemas, com as quaes passou ao ditto paiz em 1756, servindo de Ajudante de Campo junto do general Sporch que as commandava. A instancias de Frederico Guilherme, landgrave de Hesse-Cassel, Jorge 2.° permittio ao Conde d'Oeynhausen que passasse ao serviço deste Principe, conservando a antiguidade e o soldo que tinha no de Hannover; o Conde porêm não quiz gozar desta ultima graça, por um daquelles escrupulos de que só são susceptiveis as almas generosas. Fez todas as campanhas da guerra chamada dos Sette annos no exercito dos Alliados, commandado pelo Principe Fernando de Brunswick, achando-se na maior parte das acções que tiveram lugar no decurso dessas campanhas. Tenente Coronel na paz feita em 1762, e Ajudante General junto do Principe de Anhalt Bernbourg, General em Chefe das tropas de Hesse, foi promovido a Coronel em 1775 no mesmo serviço. Sendo depois empregado pelo landgrave Frederico Guilherme em varias negociações nas Cortes de Vienna, Haya, e Berlin, na qual assignou, como Plenipotenciario, o contracto do casamento do landgrave com a Princeza de Brandebourg, sobrinha do Rei de Prussia, por motivos particulares vio-se obrigado a retirarse do serviço do Hesse-Cassel. Deixando este paiz, tornou a passar á Inglaterra, donde foi chamado para o serviço de Portugal no mez de Settembro de 1776. Aqui foi promovido a Brigadeiro em 1777; e em 1779, a 15 de Fevereiro, desposou a Senhora D. Leonor d'Almeida, filha dos Marquezes d'Alorna. Em 1780, Sua Magestade Fidelissima nomeou-o seu Ministro Plenipotenciario junto á Corte de Vienna, onde foi acolhido com particular distincção pela Imperatriz Maria Thereza, e por seu filho, depois José 2.o, que lhe fez a honra de dizer-lhe um dia, já depois de ter subido ao throno por fallecimento de sua mãe: «O Conde d'Oeynhausen desde que entrou no serviço de Portugal esqueceo-se de que tinha aqui um amigo, e que esse amigo era eu. »> -- Em 1789 foi promovido a Marechal de Campo; e em 1792 a Tenente General, Inspector Geral da Infanteria. No decurso de todo esse tempo que passou no serviço de Portugal, foi muitas vezes requestado para dar, como deo, planos e pareceres sobre diversos objectos militares; e porque não deixasse de aproveitar todos os momentos que lhe resta→ vam desoccupados, deixou lançado no papel tudo quanto lhe suggerio o seu genio estudioso, de acordo com o amor do bem da nova Patria que adoptara. |